Lidando com a Queda na Safra de 2014 na África: A Experiência do Benim

Embora a produção de cajus na África continue a crescer ano a ano, não há como evitar o fato de que a safra de 2014 foi decepcionantemente baixa se comparada com as expectativas: enquanto que a análise da ACA projetava um aumento de 10,5% para este ano em todo o continente, a crescimento de fato ficou em meros 2,2%.

Diferentes fatores em diferentes partes do continente foram responsáveis por esta queda: enquanto que chuvas insuficientes levaram a rendimentos menores na África Oriental, grande parte da África Ocidental passou por uma temporada de chuvas que veio antes do esperado normalmente, apresentando desafios para os cuidados com os cajueiros e a secagem dos cajus. Além disso, estes fatores levaram muitos produtores rurais a negligenciarem as suas colheitas de caju para colocar o seu foco sobre o cultivo de safras que tinham mais chances de darem bons resultados sob estas condições.

Esta queda também causou o aumento dos preços das castanhas de caju in natura e, com isso, também aumentaram os preços para os processadores. Por causa disto, muitas unidades de processamento em todo o continente não conseguiram manter as suas capacidades completas de processamento durante esta temporada. Sob tais circunstâncias, é prudente examinar as medidas nacionais que foram tomadas para tentar assegurar que este setor em constante crescimento continue a prosperar mesmo em tempos de dificuldades.

Nos últimos cinco anos, o governo do Benim promoveu ativamente o processamento doméstico para encorajar a adição de valor local como uma medida para apoiar o setor. Este ano, o Ministério do Comércio e da Indústria do Benim, em colaboração como Conselho Nacional de Exportadores de Caju do Benim (CoNEC), lançou um experimento feito para assegurar que os processadores domésticos fossem bem abastecidos, independente das condições de mercado.

Antes do início oficial da temporada de comercialização de cajus, o Ministério do Comércio e da Indústria concedeu autorização exclusiva aos processadores domésticos comprarem cajus durante um período de um mês antes da abertura da comercialização regular, permitindo que os processadores domésticos comprassem a melhor qualidade de castanhas a preços relativamente baixos.

Contudo, políticas experimentais muitas vezes vêm acompanhadas de problemas iniciais, e esta nova política não representou nenhuma exceção. O Sr. Rigobert Oura, da CoNEC, indica que esta "política inovadora infelizmente não deu certo, por dois motivos: a má-fé dos processadores, os quais se beneficiaram a partir da compra de quantidades que excediam a capacidade de suas plantas de processamento, com o objetivo de mais tarde exportarem o produto in natura, e outros compradores [estrangeiros], os quais se aproveitaram deste período de depreciação para também comprar, o que causou uma abertura prematura da campanha, a qual foi seguida por confusão".

Os problemas foram identificados rapidamente, graças à vigilância de um comitê de monitoramento formado por vários elementos-chave e estabelecido exatamente com este fim; os membros do comitê representam os produtores, os processadores, os exportadores, os compradores e os ministérios do governo. Como consequência, uma revisão desta política está sendo feita para assegurar que os problemas deste ano não se repitam em temporadas futuras de colheita de cajus.

"Agora o Benim está no processo de fazer experiências com um sistema de vendas a granel. Um plano para a universalização de um sistema deste tipo está sendo preparado no momento", explica o Sr. Oura. Em um sistema de vendas a granel, as associações e as cooperativas de produtores rurais negociam as suas vendas de modo coletivo com os compradores, assegurando assim que os processadores e os compradores estrangeiros não possam contornar o sistema e tentar fechar negócios com os produtores rurais individuais. O comitê de monitoramento supervisará o processo, anulando o fechamento de negócios que não estejam de acordo com as regras.

"Em todos os casos", acrescenta o Sr. Oura, "o Benim tem a intenção de manter a sua política de priorizar o fornecimento aos processadores domésticos, com uma abordagem melhorada e mais efetiva". Esta política apoia o objetivo do governo do Benim de processar pelo menos 25% da produção dentro do próprio país até o ano de 2020.

As experiências do Benim refletem os desafios enfrentados pelas nações produtoras de caju de toda a África: a necessidade urgente de ajudar as indústrias locais de processamento a se desenvolverem e a se expandirem, mesmo em anos de safras não tão boas.

Olivier Kabre, especialista da ACA em Serviços de Informação de Mercado, observa que 'é raro para qualquer política ser perfeita na primeira tentativa.  O que é tão encorajador em relação á experiência do Benim é forma como todos os elementos-chave da cadeia de valor do caju do país estão envolvidos de modo tão próximo no monitoramento do progresso do experimento e que as políticas estejam sendo modificadas de modo tão rápido e transparente para solucionar os desafios inesperados".